Uma carta, de mim para mim
O que dirias para o teu eu, daqui a 10 anos?
Saudações Sara do futuro,
Aparentemente acreditas que hás de ler estas meias dúzias de palavras em formato de carta, enquanto te ris do facto de a teres escrito, mas relaxa, não estou aqui para te denegrir. E ai de ti que depois da leitura me chames de ingrata!
É sempre aprazível recordarmos por onde andámos, quem fomos, quais as nossas ambições, quem encontrámos pelo caminho e quem sem querer deixámos pelas valetas não é? Sou obrigada a concordar. Bem-vinda à montanha russa, aconselho a colocares o cinto e em caso de emergência cerra os olhos, mas não te demores. Aproveita a vista.
Tem sido complicado, ouvi dizer... Como te tens safado? Ou quem te tem safado? Sozinhos não somos nada, e tu sabes disso. É bom não é? Ter alguém com quem conversar sobre as novelas, reclamar do trabalho, chorar pelas paixões não correspondidas, achincalhar quem é diferente... Nesta altura do campeonato já sabes distinguir o certo do errado, e ainda bem! Mal de mim seres ingénua por tanto tempo! Certamente ainda o és, mas espero que numa percentagem reduzida. Agora conta-me... Das pessoas que juraste manter, amar, acompanhar, quantas levaste contigo?
Espero que tenhas consciência que afastaste quem te queria bem, esqueceste-te das boas acções, deste o que não desejavas para ti, causaste dor a quem era o teu braço direito. Aconteceu, lamentas-te tu. E espero que te lamentes vezes sem conta. Não é saudável mas permite-te recordar o que tiveste outrora e apreciar o que tens hoje.
Entre a opção de bom e mau, tens tendência a querer ir pelos dois, e para te ser sincera não sei explicar se isso é uma coisa boa ou má. Irónico não? Como se costuma dizer, bater à porta errada gera descoberta, então só tenho a encorajar-te porque todos erram e tu não és excepção. Tantas foram as noites mal dormidas, gritos na almofada, maquilhagens borradas, dores de cabeça e nenhum medicamento te salvou senão tentar apagar as asneiras que fizeste. Não te julgo, afinal de contas também te apunhalaram. Não faças o mesmo, não queiras dar o troco na mesma moeda!
Tenho visto que te tentas manter transparente, embora que às vezes um transparente sujo, porém sei que a humildade ninguém ta tira. Sabes de onde vieste, sabes as tuas origens, os teus valores, os teus ideais. Nunca te esqueças disso, nunca te desvalorizes. Por mais que corras, tropeças e caias. Enquanto tiveres garra, tens os recomeços que quiseres.
A vida continua, é a tua sorte, todavia já te deste conta que, conforme cresces, mais difícil fica cultivá-la, por isso, não te esqueças de a regar todos os dias, fertilizá-la. Hás-de colher frutos, eventualmente.
Aguardo notícias tuas, e não, cartas não são retrógradas.
Sara Oliveira
08 de Janeiro de 2018