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Dez minutos da paragem do autocarro até casa. Fim da noite, mais um dia de trabalho, mais uma farda para lavar. A ti, pessoa que estás desse lado do computador, vamos falar.
Se és mulher, sei que partilhamos a mesma agonia, o mesmo medo de caminhar sozinhas, seja onde for. Sei que tremes ao avistar um vulto do outro lado do passeio e anseias que seja uma mulher, alguém que te olhe com o mesmo alívio por te ver ali.
Se és homem... Deixa-me que te diga que a rapariga com quem te cruzas leva o coração nas mãos, talvez até tenha mudado para o outro lado da estrada antes, e podes ter a certeza que ela irá olhar para trás mal te afastes dela. Será que vais atrás? Não é por mal... Aliás, até é. Nunca ouviste dizer que por uns pagam todos?
A ti mulher, sei que susténs a respiração quando um olhar te varre de cima abaixo, perguntas-te se serão as calças justas de mais ou a blusa com um botão a menos. Será o baton vistoso de mais?
A ti homem, que respondeste mentalmente, corpo não é público, corpo não é mercadoria, gostosa não é elogio. Será difícil controlar os impulsos sexuais? Será que não tens ninguém em casa para tocar, para assediar?
A ti homem, que me puseste as mãos em cima, talvez um dia te ponha as mãos em cima também... Mas não, não tenciono cruzar-me com "gente" como tu.
A ti mulher, que és violada física ou verbalmente, denuncia.